Cuidar também é saber se comunicar bem!
Cuidar é, sim, aplicar protocolos. Cuidar é, sim, garantir recursos. Mas cuidar, antes de tudo, é se comunicar bem. A comunicação constrói pontes. E na saúde, toda ponte pode significar um caminho a mais para salvar vidas.
Noélia Prado
9/11/20252 min read


Na saúde, falamos constantemente em tecnologia, protocolos de segurança, qualidade assistencial e humanização. E isso é importantíssimo. Mas, existe um tema que faz a ligação de todos esses pontos e que, muitas vezes, passa despercebido: a comunicação.
Cuidar também é saber se comunicar bem. É sobre criar vínculos de confiança, reduzir ansiedades, evitar ruídos que podem comprometer diagnósticos e tratamentos e fazer com que o paciente se sinta compreendido. Da mesma maneira, uma comunicação aberta e honesta contribui para as relações com os colegas das equipes multidisciplinares e, consequentemente, melhora o clima organizacional e os cuidados em saúde.
A convite da Rede Mater Dei de Saúde , abordei o tema na palestra “Paciente no Centro: Comunicação, Cuidado Interdisciplinar e Humanização na Prática Clínica”, no dia 27 de agosto, no II Encontro Nacional de Coordenadores do Corpo Clínico, da rede de saúde.
Por que falar sobre comunicação em saúde?
A comunicação é parte do cuidado. Pesquisas mostram que falhas de comunicação são causas de eventos adversos na saúde. Por outro lado, equipes que investem em práticas de comunicação clara e empática registram maior satisfação dos pacientes, melhor adesão ao tratamento e maior engajamento profissional.
Uma equipe de pesquisadores da Universidade de Leicester examinou 46 estudos, incluindo pacientes da Europa, América do Norte e do Sul, Ásia e Austrália, que incluíram incidentes envolvendo 67.639 pacientes, publicados entre 2013 e 2024". Os resultados foram divulgados em abril deste ano, no artigo Impacts of Communication Type and Quality on Patient Safety Incidents: A Systematic Review, divulgado no Annals of Internal Medicine.
A revisão constatou que a comunicação deficiente contribuiu para 25% dos incidentes de segurança do paciente e foi a única causa identificada em um em cada 10 incidentes.
Pequenas mudanças de postura das equipes de saúde já podem fazer a diferença:
Ouvir sem interromper. Quantas vezes um paciente leva mais tempo para descrever seus sintomas do que o esperado? E a pressa faz cortar a fala antes da hora? A escuta ativa aumenta a assertividade da conduta e fortalece a relação de confiança.
Reformular pedidos de forma clara. Dentro de um hospital, clínica ou consultório, a comunicação perpassa vários níveis hierárquicos e áreas de atuação. Quando uma solicitação não é clara, abre-se espaço para equívocos, retrabalhos e até riscos de segurança assistencial. A clareza poupa tempo, energia e vidas.
Nomear sentimentos. Um paciente que recebe más notícias pode não conseguir expressar sua dor em palavras. Um colega de equipe sobrecarregado talvez demonstre irritação em vez de pedir ajuda. Quando conseguimos identificar e nomear sentimentos, uma das premissas da Comunicação Não Violenta (CNV) ou Comunicação Empática, criamos um espaço seguro para diálogo, acolhimento e soluções em conjunto.
Cuidar é, sim, aplicar protocolos. Cuidar é, sim, garantir recursos. Mas cuidar, antes de tudo, é se comunicar bem. A comunicação constrói pontes. E na saúde, toda ponte pode significar um caminho a mais para salvar vidas.
E na sua rotina, que pequenas mudanças de comunicação já fizeram diferença no cuidado? No próximo texto, falo mais sobre o assunto.
