Empatia
Deveria ser disciplina obrigatória nos cursos da área da saúde
Noélia Prado
4/11/20252 min read
Empatia deveria ser disciplina obrigatória nos cursos da área da saúde
Quando li a notícia, esta semana, sobre o comportamento de duas estudantes de medicina com uma paciente transplantada, eu, imediatamente, me lembrei de uma experiência pessoal que diz muito sobre gentileza e empatia na saúde.
No início de 2023, a minha família foi impactada por uma notícia de que um dos nossos estava com uma doença grave. A primeira coisa que fizemos foi procurar na internet o prognóstico, as chances de cura, entre outras informações que julgávamos relevantes para a situação e que poderiam nos ajudar a processar tantas informações que chegavam a nós.
Os sites de busca, que têm as suas qualidades e nos ajudam tanto em vários momentos, quando se trata de temas relacionados à saúde, servem mais para confundir, estressar e nos deixar ainda mais confusos. O que já era um momento familiar delicado se tornou ainda mais angustiante.
Naquele momento, como eu conheço muitos profissionais de saúde por estar há tempos na área, fiz contato com um médico que é referência, e que tem um vasto conhecimento sobre a doença em questão. Mesmo com receio de incomodá-lo, eu pedi a ele que traduzisse para mim o que estava acontecendo, e os possíveis desfechos, para eu contribuir de alguma forma com a minha família.
O que isso tem a ver com gentileza e empatia?
Ele me explicou a doença, com uma linguagem clara e transparente para leigos, e me perguntou o nome da equipe que estava acompanhando o caso em outro estado do país.
Dias depois, esse médico me ligou. Disse que já tinha dado um curso na cidade em que o colega atuava, fez contato com outros dois médicos e, para a minha surpresa, conseguiu o telefone do profissional e ligou para ele para entender o que estava acontecendo, pois percebeu que eu estava muito apreensiva.
Quando ele me disse isso, eu me emocionei. A gentileza, a delicadeza e a empatia dele por saber que era uma pessoa muito próxima a mim e que outras tantas estavam sem saber como agir, me marcou profundamente. Até hoje, não tenho palavras para agradecê-lo.
Infelizmente, as possibilidades de cura eram pequenas e o que esse médico amigo me disse que, possivelmente, ocorreria, acabou acontecendo. Um ano depois, veio o óbito.
Resgato esse episódio porque, se naquela época, eu me senti totalmente impotente com relação à situação e fui acolhida por esse médico que fez a diferença pra mim, não consigo imaginar como está a família da paciente do caso que veio à tona essa semana. Até mesmo pelo fato de que ela faleceu.
Periodicamente, nos deparamos com matérias na imprensa com esse tipo retratando situações semelhantes. Felizmente, são exceções.
Eu já tive a oportunidade de conviver com médicos que levam muito a sério o Juramento de Hipócrates e são comprometidos, empáticos, escutam os pacientes e se esforçam, utilizando técnicas de comunicação compassiva, para serem compreendidos. A empatia, a gentileza e a escuta são condição sine qua non para se tornar médico, enfermeiro, fisioterapeuta, etc.
Aprender a entender o paciente e a angústia dos familiares - e a se comunicar com eles - deveria ser disciplina obrigatória dos cursos da área da saúde.
A técnica é essencial, claro. Mas, a capacidade de se relacionar, de se comunicar, de se importar e de escutar o que o outro, muitas vezes, não diz deve, também, fazer parte da formação de um profissional de saúde.
Que tenhamos mais pessoas como do caso que eu relatei - e que nunca irei esquecer da sua clareza, empatia e gentileza - e menos profissionais que estampam portais de notícias com comportamentos inadequados e desnecessários.
Noélia Prado - Que tal ser gentil?
